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Cap. 242

O líder dos Pés Pretos tem uma noite agitada, nos poucos momentos em que consegue dormir, surge a imagem de uma montanha toda branca onde animais diferentes se alternam à sua frente falam, sempre com a mesma voz, a mesma mensagem: reúna todas as tribos, todos os povos. Venham até aqui e preparem-se para a batalha final.

Suado e ofegante, o chefe envia mensageiros a todas as tribos convocando todos para a batalha. Ele reconheceu a montanha branca e sabe quem é o inimigo que terão de enfrentar.

Enquanto os guerreiros se reúnem e se preparam, Napi prossegue rodando suas engrenagens.

Em uma planície já devastada por seu apetite, os Windigos repousam antes de retomarem sua jornada de destruição.

Surge, então, uma pequena lebre. Seu pelos brancos contrastam com a desolação do lugar, chamando a atenção e o apetite de todos.

Uma mexida de nariz da lebre e a pobre já está cercada. Olhando para os dentes afiados nas bocas salivantes, o animal suspira e desafia: — Vocês acreditam que eu matarei a sua fome?

Espantados com a situação, afinal os animais não costumavam falar, os Windigos se detêm, mas um deles retruca: — Nada mata nossa fome. Nada é suficiente.

A lebre replica: — Talvez seja porque vocês estejam comendo as coisas erradas.

Percebendo que fisgou a atenção do grupo, que vai aumentando, o animal continua: — Talvez vocês não tenham coragem ou permissão para comer algo que realmente preencha seus vazios.

— E o que seria isso? – grunhe alguém no meio da multidão formada, esperando apenas a resposta para avançar sobre a lebre, que devolve outras perguntas:

— Quem fez tudo? Quem está em tudo?

Os Windigos se entreolham, com curiosidade quase maior que sua fome.

Após um breve suspense, a lebre conclui:

— O Grande Espírito.

Há um grande burburinho misturando descrédito e decepção na multidão, que começa a se aproximar do pequeno animal, o qual, inabalável, acrescenta:

— Posso levar vocês até ele, se tiverem coragem.
 

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